quarta-feira, 4 de março de 2009

Qual é a fonte da Bauhaus mesmo?

by c.marcellus


Engana-se quem pensa que um dos tipos mais associados à Bauhaus (escola) é o famosinho Bauhaus, fontezinha redondinha, tranquilinha de desenhar, construída a partir de formas geométricas básicas e grids simples, encontrada em Cds de fontes que acompanham o pirulito, a pipoca ou o Cd do Corel Draw expert que muita gente compra nas banquinhas mundo - leia-se Brasil - afora.

Parece óbvio associar o nome à coisa, mas vamos estudar um pouco de tipografia agora, já que não mata e nem engorda. Sei que alguns vão perguntar assim, com aquela carinha de c*, "mas não é a fonte que aparece no prédio da Bauhaus daquelas imagenzinhas que eu vi no Google"?

Yes, cara pálida, é aquela mesmo. A coisa REALMENTE parece óbvia, mas há sobre minha mesa três referências distintas que apontam para as fontes Grotesk, surgidas na Alemanha ali por 1832, como referência para a construção daquela coisinha redondinha que aparece na foto que você encontrou no Google.

Segundo Jan Tschichold, um sujeitinho que "nem era grande coisa", as fontes Grotesk, "uma forma tardia das romanas, deturpada de todas as serifas e com um traço de grossura quase constante", têm na Akzidenz-Grotesk, "produto tipográfico de autor desconhecido", o elemento tipográfico mais usado pela Bauhaus. E a casa caiu! Putz, mas então a Bauhaus escola nem usava a bauhaus fonte em tudo o que fazia? Dã! Não!

E olha só como as coisas são... décadas após a sua criação, a Bauhaus fonte ganhou poucas irmãs de peso, uma infinidade de clones medonhos renomeados e sem qualquer redesign e uma irmã caçula que é bastante razoável, redesenhada a partir de conceitos da Bauhaus, e não sobre uma Bauhaus já cansada: a Neobauhaus, do Pato Branquense Ericson Straub.

Já Akzidenz-Grotesk, cheia de moral, ganhou irmãs de peso, e uma das mais famosas, se não a mais famosa de todas, a Helvetica, amada e odiada, é usada e redesenhada até hoje. Nascida na Suíça do pós guerra e tida como "sem personalidade", provou que veio para ficar e mais, que veio para ficar por muito tempo. A queridinha das multinacionais (Lufthansa, KLM, American Airlines, BASF, Bayer, Hoechst, BMW, blablablabla...) é seguramente uma das fontes mais conhecidas de todos os tempos. E tem até filme! www.helveticafilm.com

Agora, quando te perguntarem qual é a "fonte da Bauhaus", pode responder assim, torcendo o narizinho, que é a bauhaus... afinal, vamos associar nomes às coisas que a vida fica mais simples e sem discussão. Eu, como sou chato e teimoso (mas não sem conteúdo), vou falar que é a Akzidenz-Grotesk, afinal de contas, criar caso faz parte da minha vida. :)

hasta luego!


referência bibliográfica básica

Jan Tschichold
A Resurgence of Classical Book Design
by Richard B Doubleday
Penguin Books

Helvetica, tipo topa tudo
Guto Lins
Ed. Rosari

Bauhaus
Judith Carmel-Arthur
Cosac Naify Editora

Um comentário:

herus.armstrong disse...

Só para elogiar o conteúdo do blog. Gostei de ver que há pessoas interessadas em buscar informações fora do meio acadêmico e expõr para quem se interessar (e o que chama a atenção é que há interessados). Parabéns aos participantes e vou fazer comentários para que todos possamos ganhar com as discussões. :)